sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Capítulo II

Visão?

Suas mãos frágeis e pequenas envolviam a minha e a pressionavam contra seu tórax...Sua mão era muito fria ou eu quem estava febril? Não sei, mas não batia coração algum ali, apesar disso eu podia sentir sua respiração.
-V-você está viva? você é real?- perguntei trêmulo e confuso enquanto um turbilhão de perguntas invadia minha cabeça, tentei me controlar para não perguntar muitas coisas de uma só vez.
Um leve sorriso apareceu em seus lábios como se me compreendesse e então ela respondeu
-E você?
Então percebi que eu realmente não sabia responder aquilo, eu estava vivo? O que acontecia ali era real? Quanto mais eu tentava entender, mais as coisas pareciam embaralhar, enquanto eu pensava em tudo aquilo, instintivamente, deslizei a mão até o rosto dela e quando me dei conta do que estava fazendo percebi que estava secando suas lágrimas.
-Qual seu nome? Por que chorava?

Ela parecia desconcertada pela minha atitude repentina em tentar consolá-la, mas eu não tive culpa, foi algo totalmente...automático.
-Eva. Eu estava chorando? -suas sobrancelhas se moveram de forma que enrugaram sua testa- Eu... realmente n-não me lembro, desculpa. Só me lembro da sua voz, e de acordar.
BUM! um estrondo alto veio de algum lugar, Eva gritou e deu um pulo para trás... só então percebi que ali no canto onde a encontrei havia uma porta. BUM! A porta balançou como se estivesse sendo chutada... BUM! A porta foi aberta e tudo escureceu, quando acordei estava de novo sozinho, perdido, mas agora não havia mais pranto algum.

                             
Desta vez haviam bancos e as arvores ainda pareciam sem vida, mas tinham folhas, talvez frutos? Se eu tiver sorte? Meu estômago doía muito, se contorcia de fome como nunca se contorcera antes, bom... se havia fome, então há vida não é? Estou vivo, acho, andei até as arvores mas nelas nada havia, suas folhas estavam secas e prestes a cair.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Capitulo I

A mulher.

 Ali era frio e úmido, parecia ser sempre noite, apesar de não existir céu havia algo ali que deixava o ambiente levemente claro, e prateado como a luz do luar que não havia.
  O Silencio era absoluto e nada ali respirava, exceto um homem que jazia ali, seus cabelos muito pretos sujos de terra úmida e escura, onde dormia profundamente.  Haviam arvores secas e quebradiças aqui e ali, e uma brisa congelante e suave envolvia o ambiente.
  Um choro  de mulher irrompeu inesperadamente , quebrando o silencio brutal e o homem que estava ali no chão acordou e levantou num pulo, assustado e perdido, olhando a sua volta desesperadamente até que parou, e ficou ali imóvel por alguns segundos olhando hipnotizado para o que parecia ser uma distante construção de pedra da onde vinham os gritos de lamento que ecoavam em seus ouvidos.
  Ele correu por dias, horas, ou , talvez apenas minutos naquela direção, era difícil saber quanto tempo se passava quando só existiam trevas e uma ansiedade imensa dentro do peito. Quanto mais chegava perto maior ficava a suposta casa, e mais ensurdecedor se tornava o pranto vindo dali. Suas entranhas se contorciam de fome, sua boca ja nao salivava e sua garganta não podia estar mais seca de sede, suas pernas pareciam se mover automaticamente para o que parecia ser sua única esperança de descobrir onde estava, como fora parar ali e conseguir alimento e água.
Algum tempo, não muito longo, depois, ele chegou a um grande e solitário castelo feito de grande pedras cinzentas, um lago imenso e cheio de lodo atrapalhava o caminho até ele. Então ele a viu, a porta de entrada, a poucos metros da onde estava tinha uma ponte antiga e estreita que dava acesso ao castelo,  ao se aproximar percebeu que era feita de madeira podre e mal cheirosa. Olhou a sua volta, não havia mais nada ali, alem do castelo o rio e a ponte, não existia outra forma de atravessar o rio, a não ser à nado, mas como não sabia o que encontraria ali naquelas águas escuras e nem a sua profundidade, decidiu arriscar a velha ponte.
  Pisou na primeira madeira e à esse toque o barulho do choro cessou e mergulhou o ambiente novamente em um silencio mortal, então colocou o outro pé a frente do primeiro, e com esse passo a ponte rangeu e balançou precariamente, recobrando o equilíbrio prosseguiu, pisando nas madeiras quebradiças que vez ou outra rachavam e rangiam com o peso, até chegar à outra margem.



  Caminhou em silêncio até a única janela iluminada do castelo e olhou por ela, la dentro nada havia além de uma grande sala vazia, onde candelabros com velas iluminavam as paredes e o chão de pedra fria, onde tinha um tapete vermelho puído.
  Então olhando melhor os detalhes ele percebeu, que ali a um dos cantos, encolhida e vestida em trapos, existia uma mulher, com longos cabelos negros.
  Sem pensar correu até a enorme e pesada porta e bateu muitas vezes até cansar de esperar (o que não levou muito tempo) andou de ré o mais longe que pôde, até bem próximo a margem do rio e correu contra a porta que abriu alguns centímetros, repetiu o ato até que a porta tivesse aberto o suficiente para que ele passasse espremendo o corpo de lado pela fresta.
  Entrou no aposentou, onde a mulher permanecia sentada no mesmo canto, aproximou e disse no tom mais gentil que conseguiu:
- Oi, meu nome é Isac,  o seu? - Ao perceber que era com ela a mulher levantou a cabeça e olhou-o. -
Sua pele era branca como a cera das velas que haviam ali, seus olhos muito verdes e seu olhar tão frio quanto as paredes do castelo, em suas bochechas ainda se viam lágrimas, que escorriam dos seus olhos silenciosas e cintilantes, apesar de tudo, era o rosto mais lindo que ele já vira.


Levantou e começou a andar lentamente em volta de Isac observando-o com olhar perplexo e curioso, como se nunca tivesse visto igual antes, parou à frente dele, e seus olhos claros encontraram os olhos negros dele, e começou a estudar seu rosto de aparência severa, mas com um grande ar gentil, porém preocupado.
- Não devia estar aqui, por que veio? - ela disse.
- Não sei, ora, mal me lembro de onde vim, afinal, que lugar é este?
- Como vou saber? - sua mão tocou a dele, e instantaneamente ele sentiu como era fria, ela levou a mão de Isac até o próprio peito esquerdo onde não existia coração algum a bater.